Ele caminhava sorridente pela avenida principal. Era alheia a inércia das pessoas e das cores ao redor. Ele via o passar do tempo, as luzes e sorrisos amarelos por trás de cada vidro, cada janela suja ou quarto em volta.
Quase caia ao vislumbrar a altitude dos prédios e ego das pessoas normais.
Ele não era normal, era estranho; dito louco por uns, dito Aquele por outros. Os Outros...
Aqueles que emitiam timbres irregulares a seus ouvidos. Poses dispares aos seus sentidos. Sua mente era normal. Não tão avançada talvez. Mas tampouco atrasada. Era normal como qualquer mente. Mortal como qualquer coração.
Ele só queria entender a dinâmica da coisa. Se misturar, ser igual, coerente; pra que?
Ele não era igual. Na verdade, sabia que ninguém era igual.
Todos sempre estavam em busca da transformação, mudanças. Voltar a se reencontrar.
Ele percebeu que era um casulo, encerrado em outro casulo. Um casulo que o salvava dos Outros, o escondia de Alguns e o isolava dele mesmo. Ele percebeu talvez cedo, ou tarde demais, que o tempo passa como vagões de trem. Um após o outro. Trazendo e levando vidas; parando, seguindo; partindo de um começo para um fim.
E que mesmo quando esta repleto de calor, ou frio, angustia e medos sempre retorna aos seus trilhos, seguindo... Encaminhando vidas como um amante do destino. Sem nunca parar. Mas nunca levando consigo nada.
Nem um choro ou uma lagrima. Sempre só, por ser eterno. Deixando todos finalmente iguais. Parados no tempo.
Ele voltou a caminhar pela avenida, mas ao consultar seu relógio, parado a tempos; abriu um sorriso amarelo-laranja. Pois escurecia. Havia estrelas no céu. E ele não mais se sentia só. Pois não era parte dos Outros, não era parte Daqueles. Ele era estranho. Ele era ele.