Baby tanto a aprender...

É tão estranho...
Uma única musica despertar tantas sensações, tantas interpretações, tantos sentidos, tantas emoções...
Em seu álbum Chiaroscuro de 2009, a banda Pitty trouxe melancolia e peso, leveza e beleza em 11 faixas distintas, repletas de texturas e psicodélicas extremas.
Mas o que mais chamou atenção, não foram às melodias que versam entre vários ritmos e culturas e experimentações. O que chamou atenção, foram as composições, mais maduras, mais profundas, mais sinceras e absurdamente mais pessoais de uma cantora que encontrou por ironia ou não o que existe entre o 8 e o 80.
Mas de todas as 11 faixas gritadas, melódicas e “revolucionistas”, a mais peculiar talvez seja Só Agora. Quinta faixa do álbum, de composição única e exclusiva da roqueira e que versa sobre um tipo de sentimento um tanto estranho.
Só Agora a principio parece falar sobre o sentimento materno de uma mãe para seu filho. Aquele sentimento de quem o colocou no mundo, o mimou, o adorou, para saber que no final, um dia, essa cria sairá mundo afora, e trilhara seu próprio caminho. Que chegara um dia em que essa mãe não poderá mais estar ali, protegendo-o, ao lado, alimentando-o, mas que ainda assim mesmo longe ela permanecera com ele. Não importa que o cordão umbilical tenha sido cortado, a ligação continua.

Porem há aqueles mais apaixonados, que vêem na letra outro sentido mais romancista.
O de um amor, talvez platônico, ou mesmo correspondido. Uma relação a dois onde sabemos que por mais que digamos num altar ou de baixo de uma arvore, ou mesmo em frente a uma estação de metro, que sempre, será para sempre; Um dia acabara.
Mas que mesmo quando esse fim chegar, não importa: Juntos ou separados, sempre estarão juntos, em memória, lembrança ou no coração e nos sonhos.
É lindo sim. Muito mimimi, mas não é assim que vejo.

Outros ainda vêem Só Agora como uma relação de amizade(trabalhado e explorado inclusive no clipe feito para a canção e dirigido pelo diretor Ricardo Spencer no ano passado). Amigos que feito uma gestação, vão adquirindo confiança, aprendizados, quedas e conquistas, ao longo de uma vida ou de um ano. Que dividem momentos únicos e intensos, mas que sabem que um dia cada um seguira seu próprio caminho e que tudo poderá acabar. Mesmo que na alma, espírito ou mesmo nos pensamentos e fotos guardadas, eles nunca se abandonem de fato.

Enfim...
Só Agora é contraditória, ao nos dar a sensação e nos remeter a passados as vezes inexistentes. Ela nos causa certa nostalgia inexplicável. Remete-nos a momentos estranhas e a uma em particular que nunca soube explicar, mas sinto regularmente.
Sensação de alegria e tristeza ao mesmo tempo. Emoção e melancolia. Felicidade e depressão.
Aquele lance de querer o melhor para a pessoa mesmo sabendo que não é você. Feliz pela pessoa ou por um grupo, mesmo que não seja como gostaria. Aquele lance de disputa também; competição entre dois amigos; um tem que vencer, você quer que seja você, mas se o amigo ganhar você ficara feliz por ele, mas triste por não ter sido você.
Em, todos os casos, mesmo o materno, o filho ganhando o mundo, orgulho; mas tristeza pela partida dele e em saber que ele já é UM também, não é mais aquele que você alimentou indefeso e que precisava da sua proteção.
Eu particularmente vejo Só Agora, da mesma maneira que vejo e sinto Epílogos e Finais, de uma forma de vida mesmo. O saber que nada dura pra sempre, que cada coisa no caminho chega, mas um dia vai. Mas que sempre deixa fragmentos, pedaços em nós. Cada pessoa no caminho é um aprendizado, cada erro, cada conquista, cada amor e cada decepção. Elas nunca nos deixam, mesmo que passe. É uma sensação que traz aquele ar de beleza, - que linda é só agora – mas de tristeza extrema – mesmo com convicção de que para algumas coisas aquela frase final é verdadeira.
Só Agora é mágica, ao nos permitir entrar em nos mesmos e se nos permitirmos, descobrir sensações únicas e individuais de cada um.
É o tipo de canção para se ouvir sozinho, de madrugada, ou pela manhã, num dia de chuva, no escuro com fones de ouvido, vendo fotos antigas, num lindo por do sol, ou vendo a lua num dia qualquer na varanda, no quintal ou pela janela.

No mais, existe mais uma interpretação para ela muito coerente, que ouvi um dia.
O amor impossível. Quase Romeu e Julieta. Aqueles que se amam, mas por algum motivo não podem ficar juntos. Mas isso não impede que ambos não se deixem ir, mesmo que seja necessário e são. Ficarem longe um do outro. Aquele lance do "quem sabe um dia, numa outra historia".



Seja qual for sua interpretação, Só Agora foi feita para ser sentida e não necessariamente compreendida. Quem sente sabe, e isso já basta.
No mais: Com certeza essa canção jamais eu deixarei ir... De mim...

“Agora, só agora, talvez você perceba, que eu nunca vou deixá-lo ir...”♫