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“... o sol se punha cedo naquela tarde. A areia brilhava escaldante mesmo àquela hora do entardecer. Nossos corpos faziam ondas, tal qua...


“... o sol se punha cedo naquela tarde. A areia brilhava escaldante mesmo àquela hora do entardecer.
Nossos corpos faziam ondas, tal qual a fúria do mar, salgado como ele, veloz como sua subida e seu desmanche em marolas inofensivas.
Você era pra mim raso e eu profundo oceano mar adentro.
Era mais forte... Incontrolável.
A brisa da cabana a frente convidava-nos para deleites inexplicáveis...
Contudo só se ouviam o estrondo dos trovões... Era a chuva anunciando caminho naquele céu cinza.
Mas eu só ouvia o silencio...
O barulho eram nossos corpos em fogo, sal e sentido. Porque estávamos juntos e a natureza parecia celebrar.
Hoje só escuto o silêncio La fora vindo do vazio aqui dentro..
Porque me lembro como se fosse primavera aquilo que a cada ano eu dou a vida para tentar esquecer...





Amém



Pergunto: por que o coração foi feito de músculos e veias?
Nunca entendi.
Somos impelidos a amaciá-lo com cada batida incessante e umidece-lo para que não seque. Mas pra que? Se ele sempre continua rígido, duro e morno. Seco no que faz mesmo que não seja no que é.
Quando a noite chegou à praia de Copacabana, na calçada preta e branca meus anseios estavam estampados.
Flashes: você na cama, você sorrindo, eu fumando e ela na encosta de seus ombros.
Tentava me lembrar a cada passo que dava em direção ao mar que era apenas mais uma historia, uma pagina a se virar, uma desilusão ou ilusão muito bem feita, projetada apenas para me dar prazer, e dor; sinônimos se formos partir do preceito de que amor e paixão andam juntos e ao menos um dos dois significa ferida e não cicatriz.
As ondas do mar sempre me remeteram a nostalgia, saudades de tudo aquilo que deixei perdido lá atrás, num passado que insiste em se mostrar zumbi “carnificinico” em mim. Ele fede e me mostra em decomposições de imagens, sons e cheiros e ate mesmo gostos tudo aquilo que marcou, marca e me transforma a cada dia mais num pirata no amor e no sexo. Sempre roubando, sempre saqueando, embevecido pelo rum que é o ante gozo por entre pernas de machos e putas fedidas de qualquer centro barato.
As ondas batiam no cais àquela hora da noite e eu as escutava nascer com estrondo e morrer silenciosas na paisagem aberta do Rio de Janeiro.
Saudades de Sampa, mas saudades era algo que deixara para trás assim como as lembranças que aquele mar me trazia.
Eu fora e era feliz. Mas nunca consegui ser alegre o tempo inteiro.
Simplesmente acreditava na máxima de que a mentira era um prato fundo, extenso e saboroso para aqueles que possuíam o fogo necessário para mante-lo quente e sempre no ponto.
Nem que a mentira fosse mentir pra mim mesmo.
Drama Queen ou drama folk que seja.
Cansado de me esbarrar por tantas bocas e nunca achar aquela que me dá de comer ao invés daquelas que me comem e sugam feito parasitas dementadores sugando energia vontade e esperança.
Amor existe, não em Sampa ou no Rio... E nem em nenhum outro lugar do Brasil.
Só o vi coexistir comigo uma vez, num quarto, numa cabana de praia... Não como aquela...
Que seja... Afinal de que adianta aquelas lagrimas frias em meu rosto? De que adiantava aquele lamento em forma de letras?
Mamãe sempre me ensinou: “Once in Hell, Embrace The Devil”... E eu era um urso... Pronto a agarrar e não soltar mais.

(...)


Tenho tesouras nas mãos e não posso tocá-lo. Tenho medo do escuro e não posso enxergá-lo, tenho receio do além e por isso não posso amá-lo.
Frases dispersas de alguém que já não possuo. Se é que um dia possui.
5;38hrs. Café, e balas de hortelã.
Escrivaninha atolado de trabalhos de faculdade e nenhuma vontade de ser pra si mesmo e nem pra um Outro.
Jazia ali feito boneco de palha, feito boneco de pano os presentes de um aniversario esquecido.
Preciso de tudo um pouco para me fazer ir além do que a minha própria capacidade julga necessário ou cabível. Só que às vezes ao contrario.
Uma facção de desejos e reencontros de perdas e desencontros, de esquecimentos sem conseguir esquecer.
Falo da minha primeira vez real naquela cama branca cheia de instrumentos musicais desafinados.
Ela e eu. Eu e alguém que eu nunca havia visto na vida, mas achava que conhecia e entendia.
As discussões eram sempre as mesmas:
“não há culpados apenas você que mudou...
Mentira! Você nunca tentou me entender, você nunca tentou me enxergar, você sempre julgou ser difícil...
Eu? Você acha que eu queria isso? Estávamos felizes ate olharmos no espelho e nos vermos refletidos um no outro...”
Vá embora!”
Brigávamos todas as semanas, todo mês reinava um dia de paz, para outros 29 de caos.
A merda das relações humanas com humanos é que sempre o que há é o “você”, o “ele”, o “ela” o “eles”, e jamais o “eu”.
Nada de moralismo escroto não, simplesmente há aqueles que não pertencem aqui.
Há aqueles que nasceram para entender, mas jamais possuir, encontrar. Talvez uma vez ou outra (esperança sempre há e é a ultima mortal a morrer não é?), mas é difícil.
Não é simples, não é fácil.
20 passos ate o corredor e a janela trancada daquele apartamento frio.
Tudo esta de cabeça para baixo ou será que a vida esta entrando nos eixos e eu não estou acostumado com essa transição de paz?
E entre o mar de Copacabana e suas mãos de tesouras já se passaram um ano...

(...)
  
Doente.
Esse é meu estado, essa é minha condição.
Por mais que seja de espírito, dessa vez é física também.
Dores pelo corpo e o suor me fazendo companhia.
Alucinações sonoras a acompanhar.
Ali está. Seus olhos no teto da sala...
“te amo”! Um grito enraivecido...
“te odeio! Não te amo mais!” um brado sem emoção... Baixo sem entonação...
Então porque ensurdecia tanto e me fazia fechar os olhos?
Cogumelos vindo me encontrar à hora do chá das três.
Suor...
“... podemos tentar... se você quiser...?”
“Sim... Mas...”
“Qual seu medo?”
“Não é medo é receio de ir além..”
“Alem? Você quer dizer...?”
“Sim...”
“Não vou mentir... Eu já fui... E quero ir mais alem...”
“Mas...”
“Cale-se e me beije!”
“Mas...”
“... Me beije...”
Grito! A luz continua acessa... Nem sinal de maresia ou cabana de madeira. Só minha cama encharcada, o termômetro digital apitando em 39°C e subindo e eu afoito e tremendo acordando de uma ilusão de um passado real que já deveria ter enterrado, esquecido.
Nada de areia, nada de brisa leve, nada de olhos castanhos e boca vermelha...

(...)

Talvez não seja mais a sua falta que me doa, talvez seja justamente a falta de senti-la. Quem dera...
Em flashes descompassados tudo retornou: a escada, a parede fria e áspera, a almofada suja e fofa, a cadeira... A madrugada fria, a reza baixa, a corrida rumo ao parque... À volta pelo mesmo caminho, a subida... À noite não dormida, a fuga pela rua contraria, a carta queimada prestes a ser entregue, o quarto, o som, o entendimento, a tentativa, a falha...
A ida, o tapa, a promessa não cumprida, o desejo, a desistência, o não querer querendo, o ódio... A palavra dita...
Tudo em turbilhões de imagens... E eu já não alucinava mais... Ou sim?

(...) 

Dizem que o amor é potente. Tanto pro bem quanto pro mal. Nunca acreditei na parte “pro mal”, mas tenho fé de que é verdade...
Sem fome, sem sono, sem vontade. Me vi cascateando pelas ruas na madrugada, na chuva, no sol escaldante a procura de sei lá o que. Tentando me livrar do que pesava. Algo queria sair do peito. Com urgência, com força e vigor. Algo que chegava a doer, doer física não só interna, como se houvesse um roxo no peito, no estômago um vazio... Sensação de náusea.
A garganta seca e os olhos queimam, pesa e dão dor de cabeça.
Incham à medida que a água contida neles quer sair.
O vomito é quase uma constante. As lembranças, flashes do que passou latejam cada vez mais nítidos ou disformes em sucessões de imagens rápidas como slides de Power point. Os sons e gostos, sensações se misturam e formam algo quase palpável, denso que nos deixam tontos, vontade apenas de se largar num canto. No chão ou no meio da avenida, abraçar-se e por uma única vez sentir o poder e a existência de deus, anjos ou mesmo demônios em ti. Ao seu lado, a sua frente, mas sentir algo alem daquilo que lhe consome a vida pouco a pouco. Parasita...
Suga o sentimento, alimenta-se de risos e gozo, de sonhos e fantasias, de pequenos pecados e puras santidades, de segredos não revelados e depois cospe acido, cospem dor, cospe confusão, cospe doença, cospe imunidade nula, cospe lágrima, tristeza, pesar, confusão e...
Sente então que faz parte de um enredo masoquista e sádico de uma novela mexicana muito bem elaborada. E se contenta dizendo: jaja passa, e jaja minha vingança chegara.
Mas não passa, não chega, não ocorre, não é novela.
O que resta é lembrar contra a vontade em cada musica, em cada momento que a vida insiste em colocar no caminho amaldiçoar o maldito.
Por aquela onda que não o afogou, pela fatídica hora que resolvi ir lhe salvar e aquela garrafa esquecida e achada por nós... Malditos, malditos...

(...) 

As pegadas seguiam a direção do calçadão. Mas paravam antes de chegar ali de fato.
Parecia que aqueles pés 42 sumiam de repente.
Anoitecia e eu continuava a não saber o porquê estava ali, seguindo pegadas na areia.
Só entendia que precisava seguir algo, resolver algo.
Sentei no momento em que avistei uma garrafa azul não muito longe de onde eu estava.
Me aproximei. A garrafa era transparente, o liquido em seu interior que era azul claro.
Mas alguém se aproximava também da garrafa e fatidicamente de mim também.
Ele tinha olhos castanhos.
Por algum motivo só isso que retenho..ele tinha olhos castanhos...
Sorri, ele se mostrou serio. Olhei suas pegadas e notei o 42 impregnado ali que procurara exaustivamente por pura curiosidade.
Queria perguntar seu nome. Queria perguntar como conseguira apagar suas pegadas antes de chegar ao calçadão. Mas nada importava. Minha mente só conseguia visualizar, pensar e dizer: olhos castanhos...
Um trovão, e a chuva anunciou sua chegada.
Não daria tempo de chegar em casa, olhei em volta avistei uma cabana aparentemente abandonada ali perto.
Olhei para ele, mas ele já ia embora em direção ao mar com a garrafa de liquido azul nas mãos.
Me indignei. A garrafa era tão minha quanto dele. E eu estava a fim de tomar aquele porre.
Segui-o e notei que ele estava com uma expressão transtornada no rosto. Os demônios o possuíam assim como a mim. Havia feridas e sangue naqueles olhos castanhos, tal qual havia nos meus olhos negros...
De um gole só ele esvaziou metade da garrafa. A largou na areia onde eu a apanhei antes que derramasse o liquido.
Ele cambaleou e correu meio a esmo para o mar.
Por algum motivo a cena era trágica e alarmante. A chuva apertara, virava um temporal e o mar estava arredio. As ondas violentas. Senti num espasmo o que viria a seguir e corri.
Corri pro mar. Corri como se minha vida dependesse disso... E nunca estive tão certo...

(...)

Loucura... Exatidão... Cores difusas... Estava dentro da cabana... Que cabana?
Da praia não? Não... Sim?...Completamente zonzo..., nu, excitado, corpo com corpo... Não era assim que me lembrava os salvamentos em filmes e livros...
A chuva açoitava, as ancas e os membros dedilhavam notas... Boca, pernas, mãos e sexo, língua e saliva...
Dormi...

(...) 

Nada aconteceu... Era o que queria acreditar. Nada aconteceu era o que eu tinha certeza que não poderia acreditar; pois acontecera.
Sem nome, sem nada. Salvara sua vida e...
Apenas um par de olhos castanhos...
Salvara sua vida... Salvara?
Nem todos os que estão em perigo querem ser salvos... Aprendera ao longo da vida ao longo das pegadas.
1,2 anos à frente e ali, tentando dar certo, olhos castanhos... Com nome, com face, com corpo, com voz, com “obrigado” e sem garrafas sempre. E depois o quarto, a mulher nua na cama, a duvida, os dilemas, o caminhar pelo calçadão... E mais uma vez:
“por que o coração foi feito de músculos e veias?”
Nunca entendi...

(...)

Anoitecia, e as lagrimas já não podiam lavar nada além dos olhos e a dor de cabeça pós ressaca no dia seguinte. Uma nuvem no céu com formato estranho e pecador, brinda a noite com mais um filho não pregado depois de anos tentando rezar.
Era eu, ajoelhado na calçada, com olhos lançados a me encarar e julgar, estranhar e enlouquecer, tentando relembrar como se pedia misericórdia...
Pedindo ao pai, ao filho e ao espírito santo, e a qualquer outro nome sem rosto na vida para me fazer sossegar, esquecer e ter paz, ou conhecer o que é essa que só parece ser uma palavra de três letras...
Só queria um amém... Um amém para uma meia vida... Um amém, para um fim de vida, um amém para...
Então me lembro que tudo não passa de um vazio... Apenas um vazio...
...Amém.




Willian Augusto


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