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Não poderia mais resistir aquilo. Aquelas paredes brancas, aquela limpeza toda, o chão em espelhos brutos, as mulheres presas tal qual se...

Sala 230



Não poderia mais resistir aquilo.

Aquelas paredes brancas, aquela limpeza toda, o chão em espelhos brutos, as mulheres presas tal qual seus cabelos em coques perfeitas, luvas, sapatos igualmente brancos. E os homens... Tão sérios, com faces de Deuses, ou de babacas felizes como se a vida fosse apenas uma questão de qual o maior nariz de palhaço. Tudo aquilo me nauseava. Mas se fosse o caso já estaria no lugar certo.
A luz forte me cegava, não sabia mais o tempo que passara ali. Era tão injusto.
Um show, um olhar, uma discussão, e a sensação: - Você também sentiu...?
Bum!
Explosão, dor, confusão, gritaria e silencio com um baque surdo dos ossos ao chão.
Ele caiu antes que mim.
O impacto me fez rolar pelo asfalto. Como eu estava de pé sobre uma bota de couro com salto, perdi o equilíbrio e cai de quatro arfando. Sentia levemente uma ardência no ombro. Mas isso foi rapidamente esquecido, pela gritaria em volta. Pois ele estava no chão desacordado numa poça de sangue. Atingido no estomago.
Ele caiu de costas. A mochila que carregava rasgou-se as suas costas e jazia arrebentada com todo o seu conteúdo espalhado em volta de seu corpo repentinamente tão pequeno e frágil, feito uma monstruosa cena de um filme de Lars Von Trier.
Corri ate ele, sem me importar com os: Mariana você esta sangrando muito...
Não sabia o que sentia naquele momento. Dor, raiva, medo. De onde vieram aqueles tiros? E porque atiraram em nós? Porque sentimos ao mesmo tempo em que algo aconteceria, feito deja vu?
Ódio, ele não acordava e não poderia estar... Não poderia...
Eu marcara minha entrevista de trabalho na agencia de publicidade da minha vida pra próxima semana, logo ele não poderia estar... Eu iria naquela entrevista... Se ele estivesse... Eu...
Tapa. Outro tapa. Mais um. E outro, e mais outro. Mais um com força!
- Mariana... Para! Ele deve estar...
-Não!!! – mais um tapa
Alguém chama uma ambulância enquanto tentam me impedir de bater no rosto dele que ia esfriando rapidamente... Ele sempre fora tão quente... Não fazia sentido...
Eu sangrava Muito, começava a perder os sentidos também... Até que...
-Estou aqui, estou aqui... E não vou a lugar nenhum, nunca fui...
Ele acordara, chorando... Com dor... Mas me olhava, definitivamente me enxergava e isso bastava naquele momento.
- Aqui, ajudem ele, por favor... - pedi aos caras de branco que se aproximavam com macas e aparelhos que sinceramente não me interessavam...
-  ... Eu to com medo Mari... - ele tentava falar, com fisgadas de dor e uma voz assustadoramente infantil que me assustou mais do que o sangue e sua pele a cada segunda mais cinza...
- Não tem o por que. Eu to aqui... Tudo vai ficar bem...

 .........

Sempre que fecho os olhos essas cenas me vêem a mente.
Agora já fazem mais de 9 horas que ele esta lá naquela sala, naquela cama, tentando tirar a maldita bala alojada e ninguém me diz nada. Nada!
Só sei que a cada segundo percebo que terei que ligar a agencia para desmarcara entrevista....
O meu coração bate acelerado como se soubesse que terá que completar o numero de batidas de uma vida antes de...
Eu estaria ali... Seja onde esse ali fosse eu estaria ali...
Correria... E eu sinto minha pele fria ao bater no chão sem vida, ao mesmo tempo em que a sala 230 fazia mais uma vitima...


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Will Augusto. Tecnologia do Blogger.

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Aquilo Tudo que posta no Facebook e mais tantos mistérios que nem mesmo o espelho ou o mundo dos sonhos foi capaz - ainda - de descobrir.