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Uma cadeira de balanço e três balões brancos. Ele conseguia observar de longe aquela casa antiga e abarrotada de pessoas que amava. Crianças...

Uma Cadeira de Balanço e Três Balões Brancos.

Uma cadeira de balanço e três balões brancos.
Ele conseguia observar de longe aquela casa antiga e abarrotada de pessoas que amava. Crianças, seus sobrinhos de escolha, brincando e gritando, os mais velhos fazendo piadas e sentados em pequenas mesas de plástico quadradas com marcas de cerveja decorando. As mulheres em sua maioria na faixa dos 30 anos de idade exalavam beleza e cabelos despenteados, falando de suas vidas, de suas crias, de seus amores, do machismo do mundo e do feminismo ameno que batia sobre aquele novo século. Os homens reparavam nas bundas das mulheres alheias, sempre atentos se nenhum reparava em sua própria mulher, se orgulhavam da família construída com seus esforços e bebiam suas cervejas, falando de bolas, traves, carros velozes, a gostosa da ultima capa, da impotência do maluco estranho, do dinheiro sempre faltando e na próxima carne que iriam assar.
Os jovens, adolescentes não estavam ali. Alguns cães fugiam de seus caçadores – as crianças- e a musica alta, de alguma loira qualquer, ressoava pelos tímpanos quase imperceptíveis.
Era uma visão bela, pensava ele, no alto de seus 25 anos de idade.
Família, amigos, toda uma geração passada, presente e futura reunidos em torno de risos e momentos únicos, raros e extremamente necessários a qualquer ser vivo.
Mas por algum motivo ele não conseguia se sentir pertencente aquilo. Ele enxergava, mas não conseguia ver alem de cores, sons, e sensações. Não era rabugice, ou mesmo um paradoxo gótico qualquer. Nem mesmo nenhuma teoria do caos. Ele era feliz, ele ria, bebia, se permitia, transava, namorava, aproveitava tudo o que lhe cabia, chorava quando tinha que chorar ria quando tinha e queria rir. Não era o caso de não se sentir pertencente aquele mundo, aquela época, aquela família. Era o caso de não se sentir pertencente dentro de si mesmo. Talvez ele só fosse louco, ele pensava constantemente e ria de si mesmo bobamente.
Um balão acabara de estourar..e só restavam dois agora.
Desde sua infância ele se achava dono do mundo. Queria ser ator ou apresentador de programas de TV. Animador de auditório. Queria ser calouro, cantor. Ter uma banda brega onde ganhasse calcinhas de presente ou uma banda de rock, onde pudesse beber ate cair e dizer que isso era ser rock star.
Ele cresceu, não no tamanho, mas na maturidade e depois das drogas resolveu que seu mundo estava mesmo era no cinema.
As danças, os passos, o balé, a segunda guerra mundial e a quinta. Os policiais e aquelas perseguições nas ruas e na selva. Aquele mistério do universo desvendado, aquele musical na chuva estupendo. Aquela musa em perigo, aquele tapa na cara e o tiro, a facada, a espada no peito do vilão que queria a pedra do rei. Aquelas cores, aqueles sons, aquelas imagens, aquela adrenalina, aquelas historias... Ah... Aquelas historias... Os cowboys em seus cavalos, as lutas entre gladiadores, aquelas vacas falantes e aquela casa voadora e mal assombrada. Aquela linda mulher do sapatinho de cristal que adormecia e era salva por um beijo e os sete anões.
Aquele rato aviador, os amigos gays que tentavam ser aceitos e entender sobre amor não correspondido em suas vidas repletas de balas perdidas. Aquele pequeno roteirista que queria fundar uma sala de exibições e conseguiu ir alem chegar ao planeta dos macacos, numa vassoura e depois de encontrar o anel de ouro, se perder em meio os destroços de um navio naufragado.
Sim, aquele universo da sétima arte era e sempre fora o que o moveu. Mas mesmo ali naquela luz, ele ainda se sentia um estranho, alguém que não pertencia. Não conseguia encontrar a si mesmo dentro de si.
E só havia mais um balão branco...
O tempo mudava constantemente, ainda mais ali nas planícies onde a festinha de aniversario de seu irmão sobrinho mais novo acontecia. Sete anos. E ele conhecia seu irmão de escolha a mais de dez.
Em pensar que se não fosse por uma tequila, uma rosa e um filme, ele poderia ser o pai da criança. Bons tempos; pensava ele; em que um passo poderia modificar toda uma vida.
Alguém o chamou ao longe e ele deixou o balanço pra traz.
No caminho de volta a festa, ele decidira soltar o ultimo balão branco que restara.
E este subiu, subiu cada vez mais deixando-se embalar pelo vento forte que começava a açoitar as planície.
E mesmo sem ter consciência, ele sabia que ele tal qual aquele balão branco, subindo ate onde o vento lhe permitisse, tentando se achar naquele vasto céu de imensidão, ele tentava se encontrar.
Mas talvez o caso não fosse se encontrar ou se sentir um dentro de si. Talvez fosse apenas questão de descobrir que tipo de ar lhe preenchia e que tipo de rajada lhe fazia subir.



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Um comentário:

  1. "Talvez fosse apenas questão de descobrir que tipo de ar lhe preenchia e que tipo de rajada lhe fazia subir."
    Ahh, sempre me sinto assim, pq eu não escrevi esse conto, hein? hahhahah

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