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Diz a lenta que ele é um hibrido humano. Metade coração e metade ausência dele. Sem face, ele só possui sons e cheiros. Não se sab...

A Lenda do Amortador



Diz a lenta que ele é um hibrido humano. Metade coração e metade ausência dele.
Sem face, ele só possui sons e cheiros.
Não se sabe ao certo sua altura, tamanho ou gênero. Não se sabe ao certo como nasceu se é que não sempre existiu apenas.
Ele era causador do medo e da afeição. Da fascinação e da cautela.
A uns era a Divindade em Terra, a outros era o Demônio rolando solto por entre as paredes, colchões e lábios.
Me deparei com ele uma, duas, talvez três vezes. Mas creio que nunca havia de fato o tocado, o sentido. Eram apenas sombras de seus odores, que ele deixava por entre alguns olhares, por onde já passara. Nunca havia me entregado a ele. Como naquela vez.
Foram meses, anos...
Ele parecia frágil e ao mesmo tempo poderoso. Causava lagrimas, mas incontáveis sorrisos. Era fofo, Era gentil. Era defeitos e por isso perfeito. Era maciço. Estava ali. Estava aqui.
Alegria e sensação de paz domavam o meu corpo.
Mas com ela veio uma estranha coceira na pele. Era como se houvesse uma irritação dentro dela, da pele, alem dos nervos. Do lado esquerdo do peito. Mas eu a ignorava. Afinal tudo aquilo era o Tudo. E eu já podia distinguir aqueles que sempre o conheceram, que sabiam que Ele era mais que uma lenda.
Era tudo aquilo que se sonha, que sem saber se existe, ainda assim, se procura. Como se Ele fosse o mar, e eu as pequenas tartarugas recém-nascidas que sabem - mesmo sem saber o porquê - que devem ir de encontro ao mar para sobreviver. Era o sentido. A razão era Ser.
Ate que um dia a coceira deu lugar a um buraco. Profundo. E logo em seguida o buraco deu lugar à dor.
Ele sumira. Ele se fora. Ou fora eu que correra. Ou fora eu que o perdera no meio do caminho. As vezes penso se somente não o larguei atrás de uma almofada, se ele não esta acuado embaixo de algum banco numa estação de trem branca, ou se simplesmente não me roubaram ou não o matei.... Não sei...
Sei, que a ausência surgiu, a falta. As noites sem dormir, a imaginação longe, a gripe sem sintomas. As letras de ódio, com o tempo a raiva. As musicas tornaram-se parte da natureza e feito ar, podiam agora atravessar a barreira da carne e atingir fundo. Na alma. Se fazer compreender.
Estava vazio, como um pode. Vazio.
Ilusões reinavam ao redor e as vozes, seu som, suas cores, sua imagem, refletia-se dia e noite e mais nitidamente nas madrugadas em todo lugar; e aqui ao fechar meus olhos.
Com o tempo, fui esquecendo, com o tempo a ausência deu lugar ao conformismo. O buraco cicatrizou, mas deixou marcas, cicatrizes geladas, invisíveis, mas que modificaram todo o corpo, a mente, os sentidos, os sonhos... O riso branco...
Não sei ate hoje ao certo o que aconteceu. Continuo sem lembrar como era sua face, ou exatamente como se deu aquele tempo. Mas eu conheci a Lenda.
Conheci o ceifeiro. Conheci o Amortador – esse é o nome que lhe dei.
Dizem que ele esta por ai, nas sombras, nas fotos, nos bares, nas teclas e palavras, nas ruas, em cada esquina, nos ônibus, talvez, sempre ao lado.
De fato alguns são incapazes de vê-lo. Mas sentem.
Mas sei que quando nos reencontramos, não será um acerto de contas por compreensão e nem uma fuga. Será apenas uma comunhão entre velhos amigos-inimigos conhecidos, feito espelho sujo, refletindo um cara com rugas de tanto esperar...
...Sinto ainda seu cheiro...



*Inspirado nessa musica/clipe >> Jar Of Hearts



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Aquilo Tudo que posta no Facebook e mais tantos mistérios que nem mesmo o espelho ou o mundo dos sonhos foi capaz - ainda - de descobrir.