contador visitas
contador de visitas

Talvez nada faça sentido mesmo - ele pensava com afinco em sua rede de dormir. Na varanda de sua casa de campo só se conseguia enxergar ...

Folhas Secas


Talvez nada faça sentido mesmo - ele pensava com afinco em sua rede de dormir.
Na varanda de sua casa de campo só se conseguia enxergar o lago escuro e congelado a frente.
Folhas mortas de um outono gelado lhe observavam impassiveis. E ele as contemplava com uma especie de estupor e veneração.
Elas nasciam estaticas, viviam estaticas e ao menor sinal de que o tempo esta para se auterar elas desmanchavam, desistiam e caiam, morriam paradas sem tentar aguentar ou entender os porques.
Ele queria ser planta. Folha morta vermelha cor de sangue espalhada pelo chão de quem lhe pisa. Ser o que limpa a sola do sapato em neve ou repleto de merda de algum cão vira-latas  com sarna ou raiva.
Fazia um mês que ele ganhara aquela fortuna. Seis numeros em seguencia e a promessa de uma vida mais feliz.
Ele ria da ironia.
Nada mudara, so uma conta bancaria repleta de numeros novos, sorrisos amarelos novos, mãos em sua direção ao invez de apontar para comprimentar e algumas damas dispostas a transa ou a fornicação(ele via uma sutil diferença entre elas).
Não tivera filhos e nem espoça, porque jamais sentiu falta.
Não era um coitado amargurado, era apenas um errante.
Um àquem a sociedade.
Ele viu o que existia fora da caverna da existencia e escolhera não contar a ninguem.
O frio aumentou, algumas folhas se levantaram e voaram calmas e serenas em sua direção. Ele levantou os braços magros em direção a elas para amparalas em suas mão trepidas pelos calafrios e pelo tabaco de alta qualidade.
E de repente se viu na escola, a mais de 30 anos atrás....

Sempre quieto, sem entender o porque precisava responder perguntas, escrever respostas copiadas em papeis idênticos e dizer "obrigado" e "por favor" e "de nada" a tudo e a todos para medir sua inteligência, carater e capacidade de cuidar de si propria.
Afinal uma pessoa se valia pelo que pensava e fazia ou pelo que aparentava pensar e fazer?
Ele nunca entendeu o porque que tinha que ser sociavel. No que lhe dizia respeito ser sociavel era não invadir o espaço alheio. E isso ele fazia muito bem. E apartir do momento que exigiam que ele entrasse em espaços alheios que ele não queria estar previamente, isso caracterizava um ato antisocial, a ele. Invasão do seu espaço, do seu mundo.
Carlos era o maior idiota do mundo na opinião dele. Um ruivinho com QI minimo, arrogante e estupidamente burro e grande.
Adorava implicar com todos, mas era ele; o antisocial Bruno; que mais sofria.
Bruno nunca ligou, sempre ignorou. Aprendera a arte do desprezo cedo, em casa mesmo, desde que ouvira sua mãe dizer:
- a vizinha é uma puta que trai o marido e aquele garoto dela, gay. Uma vergonha. Não chegue perto deles Bruno.
E aos finais de semana saia com o leiteiro da esquina, enquanto minha irmã brincava de "onde estão os dedos", com sua 'colega' de escola, trancadas no quarto ao som de No Doubt.
Um dia Carlos resolvera partir para a violência e Bruno decidiu se defender.
Mas Bruno sempre fora magrelo, raquitico, um 12 anos com aspecto de safra 8 anos.
Foi um massagre. Como todos achavam Bruno irritantemente calado e estranho - bizarro, estranho - ninguem veio apartar o brutal assalto de um ringue só. Alguns ainda rindo ajudavam a empurrar Bruno sempre que este tentava sair de cena, ou mesmo o chutavam na altura das canelas.
Bruno não suplicou para que parassem, mal fez barulho. Pemaneceu no chão, sendo chutado, socado, esmurrado, cuspido, caçoado, humilhado, sem derramar uma unica lagrima ou transparecer uma careta de dor.
Permanecia sempre olhando Carlos nos fundos dos olhos, com a musica Sweeet Dreans encrustada na memoria.
Como a orgia violenta de pancadaria estava ultrapassando o limite do intervalo escolar e aparentemente as consciencias dos presentes e do proprio Carlos percebiam que era uma covardia quase "hitleriana" ele contra Bruno tão fragil e bobo, Carlos decidiu transferir um ultimo soco na altura do queixo de Bruno, fazendo-o desfalecer e permanecer ali nos fundos do colegio; abandonado ;pateticamente sangrando e dolorido ate a noite.
Bruno chegou em casa correu ao banheiro, curou seus ferimentos e tomou o cuidado de não deixar seus pais lhe verem de perto.
No dia seguinte assim que chegou na aula, munido de um taco de baisebol transferiu, 1, 2, 3 golpes certeiros com toda a força que conseguiu diretamente na cabeça e na garganta de Carlos que caiu sangrando e sem ar, acompanhado de gritos ensurdecedores dos presentes.
Bruno abaixou-se e sussurrou ao ouvido de Carlos enquanto balançava o taco proximo ao seu saco:
- chegue perto de mim mais uma vez e eu te mato.
Bruno foi diagnosticado como insuficiente, deliquente, perturbado e incapaz. Alguns anos em tratamentos e mais castigos, detenções e a fala de sua mãe:
- você é uma vergonha....

Ele voltou ao presente. O frio aumentava, mas ele não fazia questão de entrar na casa.
O aroma do lago congelado e das folhas secas lhe agradavam...
Eram melhores que o cheiro fédido das pessoas no interior da casa. Com seus perfumes baratos, xicaras de café forte e wisk's vagabundo; velando um corpo magro e decrepito no centro da sala preta.
Faziam 7 horas que haviam encontrado seu corpo sem vida a margem do rio escuro e congelado, segurando uma unica folha seca na mão esquerda e um taco de baisebol na mão direita.




...não vejo solução naquilo que não é uma incognita.
Todos os caminhos pendem para uma unica direção. Não importa a bifurcação ou o beco, no final são sempre as escolhas. Sempre elas...


You may also like

Nenhum comentário:

Will Augusto. Tecnologia do Blogger.

Realidade Utópica no Face

Utópicos

Contact Us

Utopicos ate o momento

Eu
Aquilo Tudo que posta no Facebook e mais tantos mistérios que nem mesmo o espelho ou o mundo dos sonhos foi capaz - ainda - de descobrir.