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Textos de   Indianara Alves Siqueira  (Ou ao menos tomei conhecimento através dela, e os transcrevi aqui da mesma maneira que os li) ...

Me Quebraram e Desculpe Por Matar Seu Filho

Textos de  Indianara Alves Siqueira (Ou ao menos tomei conhecimento através dela, e os transcrevi aqui da mesma maneira que os li)

Me Quebraram

Me quebraram aos 8 anos quando me disseram ser eu "diferente"
Me quebraram aos 12 anos quando comecei uma hormonioterapia clandestina sem saber mesmo o que eram hormônios e as consequências futuras
Me Quebraram quando na escola fui agredida,jogada em um muro de chapisco,tomei um chute no peito e minhas notas escolares caíram vertiginosamente
Me Quebram quando me excluíram do ensino,da meio familiar,do mercado de trabalho,quando me negaram o direito à uma religião
Me Quebraram nos dias que tive que passar em delegacias e viaturas de polícia achicalhada e humilhada por quem tinha obrigação de me proteger e era pago pra isso
Me Quebraram sim,quando agrediram minhas amigas e depois foi minha vez,quando assassinaram minhas amigas com requintes de crueldade e implantaram em mim o terror obrigando-me a saber que um dia posso ser a próxima
Me quebraram ao não me darem direito ao nome que me representa
Me quebraram ao me negarem o direito à saúde
Me quebraram quando sobre ameaças de morte e tentativas de assassinato me obrigaram a me esconder
Me quebraram várias vezes e quantas vezes foi necessário
Me quebraram e desses cacos caídos pelas estradas da vida consegui me refazer,por mais que guarde dentro de mim as rachaduras das minhas quebrações
Me Quebram,mais ninguém chorou por mim,nem recuou,nem soltou uma nota de repúdio ou mesmo para dizer que não me conhecia e que não tinha culpa se me quebraram
Me quebram e eu fiz uma festa para comemorar
Me quebram mas eu dancei,representei,fiz sexo por prazer e por dinheiro e procurei a felicidade entre cacos
Me quebraram e isso não comoveu ninguém
Me quebraram e quebram uma santa de gesso e pela santa tudo o que foi negado à ela foi dado como direito
Me quebraram,mas as notas de repúdio,pedidos de desculpas,lágrimas e até mesmo medo foram dados à santa,uma imagem de gesso inanimada,sem vida nem sentimentos,mas que conseguiu quase uma comoção mundial
E como a santa tinha grande importância,eu fiz à ela uma homenagem em forma de missa de sétimo dia,para que não esqueçam que entre humanos excluídos e quebrados das mais infames formas e imagens de gesso inanimadas,mas elevadas ao grau de santidade,quebrar esse gesso causa muita dor até mesmo onde essa dor não deveria ser sentida nunca.


DESCULPE POR MATAR SEU FILHO

Pais,

Lhes escrevo essa carta como um pedido de desculpa para pedir que não ajudem no julgamento que fazem para me condenar socialmente
Peço-lhes desculpa por assassinar seu filho
Mas era necessário ou melhor,era ele ou eu 
Eu vou lhes contar como tudo aconteceu:
Um dia eu cruzei com seu filho,foi quase sem querer
Aquele menino que vcs criaram e ensinaram quais roupas masculinas deveria usar
Ensinaram como se comportar enquanto menino
Ensinaram que menino faz xixi em pé e não chora
Aquele menino que vcs amavam tanto e projetaram para ele um futuro casado com uma linda mulher,pai de família e um homem exemplar
Um dia quando tive consciência e para mim se abriu a idade de poder diferenciar certo e errado,bom e ruim,nesse dia eu cruzei com seu filho
Então eu planejei tudo,sim eu fui arquitetando,talvez os advogados digam:tá vendo condenem pois foi premeditado
Pra mim não foi,foi legítima defesa da vítima que precisava sobreviver
Sim era isso,eu precisava sobreviver,mas vivia aprisionada pelo filho que vcs idealizaram,ele me mantinha em cárcere privado no seu interior,eu vítima de tudo o que vcs ensinavam a esse menino,eu precisava viver e pra isso o filho idealizado por vcs teria que morrer,sinto muito se não dei nem tempo de vcs se despedirem dele
Sinto muito se vcs sofreram,sinto muito se vcs ficaram ou ficam esperando um dia a volta do filho amado,mas isso não vai acontecer
Sinto muito se os decepcionei com o meu ato,mas tinha que ser assim
Eu o matei pouco à pouco e devagar
A cada agulhada de hormônios femininos que eu lhe injetava nas veias
A cada roupa feminina que eu vestia eu o sufocava nesses panos,com meus saltos e maquiagens eu o matava e assim eu me sentia cada vez mais viva
Parece tortura,mas o filho criado e idealizado por vcs também me torturava desde de minha mais tenra infância que consigo me lembrar
Mas não foi vingança,foi apenas sobrevivência
Sim eu o sufocava e quanto menos ele respirava,mais feliz e forte eu me sentia
Eu tirei dele todos os direitos,inclusive à viver a vida planejada por vcs,sem saber que tirava junto meus direitos também
Um dia eu olhei através de um espelho e vi que ele não respirava mais,aproximei o espelho para ver se sentia algum sinal da vida dele planejada por vcs
Mas não tinha mais nada,nenhum resquicío de seu filho
Nada sobrou dele,já que com meu corpo eu o soterrei
Sim,vcs não encontrarão o corpo de seu filho assassinado por mim,já que ele foi soterrado por meu corpo
Então um dia olhei pra vcs e as lágrimas rolaram,era a despedida,me despedia da vida que até ali eu,vcs e seu filho partilhávamos,agora seria só eu
A vida que vcs idealizaram pro seu filho destruiria a minha e eu estaria morta agora,então o matei antes pra sobreviver
Do filho de vcs a única coisa que sobrou foram os documentos,espero um dia também destruir esse último resquício que prova que ele existiu
Então eu passarei de usurpadora dos documentos dele para uma pessoa que existe de fato com meu próprio nome e não mais o dele 
Sinto muito se causei em vcs sofrimento,não era essa minha intenção
Mas eu tinha que nascer ,sobreviver e matá-lo era imprescindível,pra eu tentar ser feliz apesar de tudo
Adeus meus pais.


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