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Ao longa da vida fui acumulando escudos e espadas. Mas, também fui acumulando crostas tão duras e fendas nestas tão profundas, que o si...

Ele Sou Eu

Ao longa da vida fui acumulando escudos e espadas.

Mas, também fui acumulando crostas tão duras e fendas nestas tão profundas, que o silencio e o escuro foram exalando pelos poros.
Mas, tal qual cego, aprendi a perceber e conhecer de maneira plena tudo ao redor, e jamais saber me reconhecer. Nunca me vi. Não possuía visão. Mas...

Imaginem que alguém, desde o nascimento foi exposto a dores: socos, chutes, facas, martelos, pregos, ferros quentes, fogo na pele, unhas a serem arrancadas, dentes destruídos desde a raiz aos nervos, águas nos pulmões, enxaquecas persistentes em uma sucessão de gritos e movimentos bruscos. Uma cólica incessante; Tudo isso, causou a esse alguém uma cegueira quase irrecuperável. Ano apos ano, ele ia se fechando, aprendendo a ser aquilo que escutava, aprendendo a caminhar 'no vale das sombras' sem temer por ser parte dele. Aprendendo a somente ver o que ha envolta por seus sentidos aguçados e sensibilidade latente, para suprimir a visão de si mesmo que jamais conseguiu conhecer. Um alguém que nunca se enxergou tal qual é.

Imaginem que um dia, algo ocorre. Apos uma dor especifica, um massacrar de coração, um esvaziar de alma e espirito; de alguma forma sua visão justamente pelo trauma começa a retornar. E quando finalmente lhe apresentam a imagem de quem ele é e sempre foi, ele não se reconhece. Quando ele se olha no espelho, ele não sabe quem é aquele refletido.
Ele sou eu.

... mas, igualmente tal qual alguém cego, aprender a sobreviver quando o mundo parece não existir para você é um valor que pouco a pouco, to aprendendo a conhecer.
Me adaptar a luz, reconhecer-me e gostar do que vejo. Mas, acima de tudo, ter consciência das realidades fora das crostas e das fendas da caverna.

Por ser gay o mundo quer me ver morto.
Por ser negro, o mundo quer me ver morrer.
Por ter algo crônico, o mundo - e a vida quer me ver desistir.
Por ter depressão, os dias não querem me ver amanhecer.
Por ser pobre, o mundo quer me ver cansar.
Por ser preto não pauzudo, o mundo quer me ver solitário.
Por crer arte, o mundo quer me desacreditar.
Por não saber ser, o mundo quer me ver invisível.
E justamente por me atrever a cair e continuamente levantar, o mundo quer me ver perder.

Como disse Oléria: "Não é contando por contar, não é por vaidade;
Mas peito pra encarar a vida louca com coragem''
Meu Eu sempre foi Ele. E tal qual as selfies, acho que finalmente to aprendendo a tornar
meu Eu em Eu - meu.
Afinal, de que servem as espadas e os escudos, se não forem para enfrentar e derrotar dragões?
É, o dragão da vida vai ter que se acostumar. Não pretendo mais ir. E se bobear, feito Filho da Tormenta, talvez, um dia, chegue a hora de aprender a montar.

"Alô, alô, som
Teste! 123, testando!"♫





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Aquilo Tudo que posta no Facebook e mais tantos mistérios que nem mesmo o espelho ou o mundo dos sonhos foi capaz - ainda - de descobrir.