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Hoje remexi nas gavetas trancadas do quarto e revi lembranças proibidas. Encontrei cartas, cartas de despejo, cartas de cortejo, cartas d...

Bilhete Engavetado


Hoje remexi nas gavetas trancadas do quarto e revi lembranças proibidas.

Encontrei cartas, cartas de despejo, cartas de cortejo, cartas de adoção, cartas de um um menino apaixonado e cartas de um garoto revoltado, cartas de um homem cansado e cartas de um velho nostálgico. Nos cantos entre as poeiras e os clipes, estavam duas ou três recordações de um verão e de dois outonos. Havia bexigas vazias e algumas ainda nos pacotes para serem preenchidas. Retirei tudo da-li de dentro. Os repousei sobre a mesa de cabeceira e parei, contemplando a superfície da gaveta mofada e com cheiro acre.

Parei refletindo se deveria limpa-la, passar um pano úmido ou não.
Notei que haviam marcas, rachaduras e riscos sobre a superfície da gaveta. Ao puxa-la era possível escutar um rangido.

E me veio vozes, imagens, toques de pele e cabelo, sons, conversas, tudo aquilo que aqueles espaço guardou.

Ali sobre a cabeceira, as bolinhas de gude, as cartas de 'Yu-Gi-Oh', as 'BayBlades', os livros de colorir, as fitas com musicas gravadas da radio... Havia também os pacotes vazios de preservativos, as alianças devolvidas e aquelas nunca dadas, as recebidas e ate mesmo a sombra das recusadas, havia os celulares quebrados e suas baterias, as pilhas do Disk Man inexistente, os recortes de jornal do artista preferido, a bituca do cigarro e a erva no saquinho semi-aberto mas nunca usado. menos evidente estavam a carteira de trabalho, a solicitação da carteira de motorista, o diploma da faculdade, o histórico do ensino médio, o pen drive, a câmera de vídeo sem filme,o perfume, os testes de HIV negativos, as prestações do computador, e a fatura do cartão de créditos; as contas de água e luz vencidas. E fotos, muitas fotos de rostos iguais, de rostos diferentes, de rostos esquecidos, de rostos mortos, de rostos distantes, de rostos amigáveis, de rostos desejáveis. Muitos rostos, faces, fases, ângulos, luz, sorrisos congelados e lagrimas também, expressões de medo, de apreensão, de duvida, de desafio. Fotos...

Estava tudo ali, num embolo de sentimentos, emoções, sonhos e desistências, de preocupações, saudades, esperanças e realidade. Tudo espalhado e misturado, toda uma vida, ainda em percurso, tudo cabendo numa gaveta antiga e empoeirada.
E decidi deixar a gaveta como estava, com suas marcas, com seus arranhões, com aquele rangido característico. Só passei um pano umedecido.
Coloquei toda a vida de volta a gaveta e a fechei novamente.

Sobre a cabeceira, somente duas fotos rasgadas, as embalagens de preservativo vazias e as bolinhas de gude- além da bituca de cigarro e as cartas escritas e recebidas-.

E nessa limpeza e revista uma mescla de choro e sorrisos perpassou a mente e o coração, aflorou a pele, mais que o cheiro de mofo que exalou pelo quarto. Alias, um cheiro de odor forte que ao mesmo tempo que nauseava, entorpecia.

Penso em quando voltarei a ter coragem de reabrir essa gaveta...
Dessa vez não a organizei, apenas limpei e ajeitei. Inclui mais alguns objetos e um bilhete escrito por mim enquanto algumas lagrimas sorridentes caiam.

No bilhete: "...Tudo passa..."


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Aquilo Tudo que posta no Facebook e mais tantos mistérios que nem mesmo o espelho ou o mundo dos sonhos foi capaz - ainda - de descobrir.